flash do povo de Trincheira.

O PROJETO CIRCUITO TAMBOR

 

Este projeto busca resgatar aspectos salientes das atividades de Marinharia e de Navegação das antigas comunidades Caiçaras do Brasil.

Inicialmente usa-se como laboratório de estudo a área estuarina de Cananéia, Ilha Comprida, Ilha do Bom Abrigo e Ilha do Cardoso.

Não daremos foco na culinária, dança, e outros aspectos pois estes temas já são bem exploradas por grupos competentes.

 

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Na área de Cananéia (25ºS) este povo do mar possuía um calendário mental que era governado por fenômenos naturais e da área, como por exemplo: “.... a tainha chegará quando as flores do ipê vermelho caírem e depois que o verde da serra ficar com florada rosada...” e até hoje a tainha continua chegando nesta época (início do inverno).

A expertise neste tipo de navegação foi importante para garantir a logística de transporte de mão de obra e equipamento pelo mar para manejo de culturas em terra como o arroz, a mandioca, coleta de taquara e madeira.  Havia a lua certa para corte de vegetais lenhosos como Madeira e taquara.... madeiramento cortado fora desta época apodreciam antes do tempo.

 

Sabe-se que em toda faixa litorânea do sul e sudeste era realizado uma navegação a vela ou a remo e em alguns casos por deriva, contra e a favor da maré, isso mesmo, deriva contra a maré, paresse impossível, mas não é.

A exemplo dos períodos de novembro a abril, os homens saiam ao mar com mastreação e velame ainda desconhecidos para pesca do cação, roncador, pescada e outros animais de grande porte.

 

Neste tipo de navegação havia um protocolo e regras para vivencia em grupo. Passavam dias em mar comendo alimentos tratados de forma a durarem por muito tempo. Sabiam cozinhar a bordo. Quando em várias canoas separavam uma delas para ficar sempre limpa, sem operações de manejo, era um local onde estes navegantes almoçavam, jantavam e revezavam o sono (local para dormir).

Em períodos de muita chuva não tinham medo de atrasar sua saída dos canais nos momentos das vazantes, pois sabiam que a água (principalmente a doce da chuva oriunda das serras) criavam no mar um fenômeno conhecido hoje (cientificamente) como bombeamento de maré, ou seja um veio de água correndo no meio do mar contra a maré.

Sabiam navegar muito bem com drogues, hoje conhecido pelos velejadores como ancora flutuante. Era uma espécie de puçá feito com material de vela ou lona, quando jogado no mar era arrebatado pelas fortes correntes submersas e conseqüentemente tracionando uma ou várias canoas.

 

A definição do tipo de patilha ou tipo de proa era escolhido pelo tipo de mar que enfrentariam.

Este tipo de trabalho duro talhou estes marinheiros de mãos grossas, mas que eram sensíveis as mudanças do tempo, pressão, vento...

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Se tornaram especialistas na construção de cercos de taquara, uma arte em construir abrigo e captura de pescado de forma passiva. Ao contrario do que as pessoas pensam na era a maior fonte de renda ou alimento, pegava muito peixe de forma seletiva, mas servia para garantir alimento e recursos em caso de pesca ou colheita fraca. O cerco era um uma poupança para dias ruins e eram montados pelos homens mas muita vezes manuseados por mulheres e crianças, já que os adultos estavam fora. O cerco é uma obra criativa e de arte com uma espia, os ganchos, a porta do peixe ( o grande segredo deste tipo de pesca) e a casa do peixe, local onde os peixes entravam e viviam por algum tempo. Como uma lavoura no fundo do quintal de casa o cerco de cada família era respeitado pelos demais habitantes.

 

 

 

Uma arte comum a todos navegantes caiçaras no Brasil é a corrida para pesca com redes, costuma ocorrer com 4 ou mais homens e um barco veloz, onde um homem, chamado de olheiro fica em terra (sua posição depende do ângulo do sol, reflexo de luz e outros fatores que permitam enxergar melhor cardumes de peixes. Este homem costuma ficar com um longo cabo preso a canoa. Quando detecta um cardume de peixes adultos e da variedade que interessa, assobia e com gestos dá sinal ao grupo de mar que inicia uma corrida de canoa (uma explosão silenciosa de força muscular, onde um ou mais homens remam, um vai lançando rede e o homem da popa conduzindo a direção, ao contornarem o cardume aproam para a praia e começam a puxar os dois lados da rede.... atividade muito dura.

 

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Um exemplo de olheiro atual no Sul do Brasil.

 

 

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Projetos que podemos usar como referencia ao futuro.:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Representações

 

A partir de 2012 procuramos uma forma de representar a cultura Caiçara no meio náutico e não encontramos outra forma além de participar de Regatas Esportivas (pelo menos as comemorativas como: Dia do Marinheiro, Aniversário de Santos, etc. conseguimos subir no pódio onde ouvimos na classificação o locutor falar em alto e bom som “... na categoria Trindade representando a cultura Caiçara o veleiro Tambor I.... Eduardo Manoel e Cesar Gomes. Foi um momento único, gostaria que meus velhos ouvissem isso.

Pedi desculpas (desnecessário) ao Sr, José Carlos Chrispin, um dos organizadores destes eventos pelo fato de estar representando os caiçaras sem uma canoa a vela. .... neste dia um dos participantes ainda falou, ainda bem que você não trouxe canoa, pois o vento de largada estava pela popa e eu já vi uma canoa destas com vento de popa, são muito rápidas e nossos estaleiros passariam vergonha considerando toda atual tecnologia. Recebi bem este comentário. Um dia levarei o Trofeu para secretaria de esporte de Cananeia ou Ilha Comprida

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Em uma outra regata, Aniversário de Santos em 2013, o tempo estava ruim, grande ondulação, vento pesado e muita chuva. Meu proeiro mareou

 

Saímos cedo, atrás da Juria para correr a regara festiva de aniversário em Santos. Saímos com um monotipo , modelo trindade. Faltou uma canoa na prova. Muuuuita chuva e vento que se acentuou quando se afastava a sombra eólica do morro do Guarujá. Um colega nos mandou por celular mensagem de piora de tempo, mas não deu tempo de ler antes de chegar em terra.
Ao passar a segunda batiza verde do canal, iniciou as a ondulação, as questões técnicas do barco foram atendidas com claras orientações do professor C. Peixinho, um velejado de SV com voz na frequência de 40 Hz. Se estivesse presente a festa teria sido mais técnica. Já a dança com o vento e com as ondas devem ter surgido devido herança genética da família Tambor (João Tereza e Silva, Francisco Tambor, Totó Tambor, Horácio Tambor, ....) meus antepassados em Cananéia que enfrentavam a barra 1703 com canoas a remo e vela. Era um momento único de emoção e alegria vendo velejadores de todas a idades com uma dança parecida com a cavalgada das Valquirias. Rsrsrs.
Parte dos oceânicos recolheram a buja ou a principal
Começou o vira vira, monotipos virando e mostrando cascos e bolinas (show das partes vivas dos pequenos barquinhos). Teve um caso de um casco tão leve que o velejador teve que sair nadando atrás dele, pois o casco em posição lateral começou a velejar para longe de seu piloto, quando os colegas tentaram ajudar, o “Homem (menino) ao Mar” exímio nadador alcançou o monotipo.
 
Cisne Banco, o Vela I, marcou presença, mas quando começamos procedimento de largada, uma má notícia, meu proeiro mareou e meio em Pânico pediu para retormar, retornamos para o desembarque pensando em retorno antes da largada. Para melhorar os ânimos comecei a cantarolar a conhecida melodia SOSSEGAI, música de Horatio Hichmond Palmer (1834-1907). O engraçado era os demais veladores vendo um pequeno barco na mão contrária com um cara sentado no costado cantando alguma coisa ao vento e outro deitado no fundo no barco.
Foi uma boa velejada.
 
Um dia conseguiremos repetir isso na 1703 com ondas vindo de três lados diferentes, porém em rápidas canoas de madeira. Coisa do antigo pessoal de Trincheira e Pereirinha. Neste dia, ouvi o som de um Tambor...

Estudos de Campo.

Em 03 de novembro de 2012, o Projeto Circuito Tambor visitou região estuarina de Cananéia (25°5 - 48°W) para estudo de fenômeno denomina Bombeamento de Maré.

A analise foi feita apenas em superfície mas foi alcançado resultados que comprovam as observações dos antigos Navegantes de Tambor além do grupo científico:SadakoYadoya MIYAO & Joseph HARARI  / 1989.

A expressão usada por alguns pescadores da região de que a maré de quarto pode subir e descer sete vezes ao dia o que foge as regras científicas já amplamente divulgadas de que a maré sobre apenas duas vezes ao dia, entretanto o fenômeno estudado (Bombeamento de Maré)neste local aumenta seus efeitos e pode gerar um delírio oriundo de água residual do Mar do Porto Cubatão que continua alimentando o Mar de Cananéia retardando a baixa maré no local.Em dias de muita chuva este delírio pode vir a aumentar devido a contribuição afunilada de água doce. Os “antigos navegantes Tambor” de alguma forma, através de observações por gerações sabiam disso e usavam o fenômeno para facilitar a navegação e encurralar pescado em uma corrente que podemos chamar de corrente fantasma (algo que não deveria estar lá, mas está). O evento tanto é comprovado que no exato momento do início do bombeamento um grande grupo de botos, gaivotas, biguás e outras aves marinhas, além de pequenas embarcações de pescadores artesanais, quase como se tivessem marcado um encontro se encontraram no local. (vide mapa do Circuito Tambor: novembro a abril pesca com redes estaqueadas e janeiro a abril peca com linha no local)

Não possuímos marégrafos e demorou  para achar uma forma de transformar este fenômeno em algo visível sem agressão ao meio ambiente, portanto decidimos por usar laranjas (frutas compradas em Pariquera no caminho a área de Estudo).

Usando apenas embarcações com propulsão humana (canoas caiçaras) chegamos até a saída sul do canal do Porto Cubatão e com laranjas fizemos uma esteira flutuantes de frutas amarelas para conhecer o comportamento do Mar na virada da Maré. Por algumtempo o cinturão de frutas flutuava e manteve uma linha reta e depois um arco perfeito , mas após alguns minutos algumas frutas no meio do cinturão se distanciaram  da formação no sentido da Trincheira, portanto enquanto a Maré iniciava sua enchente constatou-se uma nítidae forte corrente contrária, Corrente esta que como descrevem  MIYAO &HARARI, amortiza a onda de enchente.

Além do valor cultural, é muito importante usar o fenômeno como elemento presente para tomadas decisões industriais ou urbanas, pois neste caso há pontos favoráveis e desfavoráveis e um dos desfavoráveis é o potencial para a região do Mar de Cubatão não ter uma plena troca de água marinha, ou que pode dificultar a proteção da vida local em caso de descarga de contaminantes, esgoto e outros resíduos neste ponto de Cananéia.

 

 

Visita a ranchos de navegantes locais

 

Iniciamos nosso relatório GRI (Sustentabilidade), para tal nos inscrevemos e participamos de treinamento na Bovespa e SP.

Em nossas rondas culturais identificamos casos atípicos um que marcou, foi uma emergência com aparecimento de tambor com produto perigoso em nossa praia. Acionamos a Petrobras e constatamos uma resposta imediata ao controle do sinistro.